sexta-feira, 19 abril, 2024 07:12

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É seguro comer alimentos transgênicos?

Um alimento geneticamente modificado é perigoso? Muitas pessoas parecem pensar que sim.

Nos últimos cinco anos, empresas apresentaram mais de 27.000 produtos para o projeto que visa rotular alimentos e produtos que sejam livres de qualquer modificação genética. No ano passado, as vendas de tais produtos, identificados como não transgênicos, quase triplicou.

Alguns ambientalistas e grupos de interesse público querem ir mais longe ainda nessa questão.

Centenas de organizações estão exigindo a rotulagem obrigatória dos alimentos transgênicos. Desde 2013, três estados dos Estados Unidos (Vermont, Maine, e Connecticut) aprovaram leis para exigir rótulos de transgênicos. Massachusetts deve ser o próximo a entrar na onda.

A premissa central dessas leis é uma ansiedade dos consumidores por alimentos “limpos” que, convenhamos, é justamente o que despertou o interesse das empresas em produzir alimentos não transgênicos.

No ano passado, em uma pesquisa realizada pelo Centro Pew Research, 57% dos americanos disseram que geralmente consideram que é “inseguro comer alimentos transgênicos”. O estado de Vermont diz que o objetivo principal de sua lei de rotulagem é ajudar as pessoas a evitarem potenciais riscos para a saúde que seriam proporcionados por alimentos produzidos a partir de engenharia genética.

Mas esse medo tem base em quê?

Na desinformação.

A Organização Mundial de Saúde, a Associação Médica Americana, a Academia Nacional de Ciências e a Associação Americana para o Avanço da Ciência todas já declararam que não há nenhuma boa evidência científica para afirmar que um alimento geneticamente modificado não seja seguro.

Mas muitos de nós não confiam nessas garantias. Somos atraídos por um discurso cético e vazio que planta uma pulga atrás da nossa orelha, que fica dizendo que há mais mutreta nessa história, e que alguns estudos encontraram riscos nos transgênicos, só que a Monsanto está encobertando tudo.

Será?

Will Saletan, que escreve sobre política, ciência e tecnologia para o site Slate, passou um ano de sua vida pesquisando tudo sobre o assunto. Nesta saga, ele reuniu uma porção de informações, notícias, pesquisas e, o mais importante, fatos, para esclarecer essa questão de uma vez por todas.

1. As mentiras, elas estão
por toda a parte

Em primeiro lugar, é verdade que a questão é complicada. Mas quanto mais fundo você cavar, mais fraudes você encontra em casos contra alimentos transgênicos. Eles geralmente estão cheios de erros, falácias, equívocos, imprecisões e mentiras.

2. Os alimentos não transgênicos não seriam mais seguros

Em segundo lugar, o argumento central do movimento anti-transgênicos é uma farsa. Ativistas que propagam o medo denunciam proteínas em culturas transgênicas como tóxicas, mas tendem a defendê-las em drogas, pesticidas e culturas de não transgênicos – que são carregadas com as mesmas proteínas. Ou seja: os alimentos não transgênicos não seriam mais seguros.

Eles também retratam a engenharia genética como algo caótico e imprevisível, mesmo quando os estudos indicam que outros métodos de melhoramento de culturas, incluindo aqueles favorecidos pelos mesmos ativistas, são mais perturbadores para os genomas das plantas.

3. Não quer MESMO comer alimentos transgênicos? Você está se preocupando com a coisa errada

Em terceiro lugar, há preocupações válidas sobre alguns aspectos da engenharia genética na agricultura, tais como herbicidas, monoculturas e patentes. Mas nenhuma dessas preocupações é fundamentalmente sobre a engenharia genética.

A engenharia genética não é uma coisa. É um processo. E, como tal, pode ser utilizado de maneiras diferentes para criar diferentes coisas.

Para pensar claramente sobre organismos geneticamente modificados, é preciso concentrar-se sobre o mérito de cada caso. Se você estiver preocupado com pesticidas e transparência de seu uso, por exemplo, você precisa saber sobre as toxinas a que seus alimentos têm sido expostos.

Um rótulo de “OLHA, ESSE ALIMENTO NÃO É TRANSGÊNICO!” não vai te dizer isso. E inclusive pode te deixar mais confortável para comprar um produto não transgênico todo cheio de toxinas, mesmo quando a alternativa geneticamente modificada é mais segura para sua saúde.