terça-feira, 16 abril, 2024 09:12

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Donald Trump apresenta nova proposta de Imigração para os Dreamers.

Desde que o governo decidiu pôr fim ao DACA, em setembro, programa de apoio a cerca de 700.000 jovens ilegais, a situação é de indefinição em relação ao futuro dos imigrantes no país.

O impasse foi tão grande que impediu a aprovação do orçamento para este ano, provocando uma paralisação do poder público durante três dias em janeiro.

A proposta prevê que 1,8 milhão de imigrantes ilegais tenham suas proteções contra deportação ampliadas.

Além disso, os jovens que eram assistidos pelo programa DACA devem ter o direito a conseguir a cidadania dentro de um período que pode variar de 10 a 12 anos, contanto que cumpram uma série de requisitos referentes a trabalho e educação e não cometam nenhum crime.

O objetivo do programa é conseguir atrair o apoio de democratas, mas ele não virá sem contrapartida.

A ideia de Trump é atrelar a nova política a uma série de condições, como a criação de um fundo fiduciário de 25 bilhões de dólares para financiar a construção do muro na fronteira com o México e a implantação de medidas restritivas à entrada de imigrantes no país.

Em seu discurso no Fórum Econômico Mundial, em Davos, na última sexta-feira, Donald Trump afirmou que a atual política migratória dos Estados Unidos é ultrapassada, e que os imigrantes a serem aceitos no país deverão ser escolhidos de acordo com seu potencial de contribuição à nação.

Segundo Trump, a mudança de paradigma é necessária por questões de segurança, para prevenir o terrorismo, e econômicas, para não sobrecarregar os cofres públicos. A temporada do American Dream acabou.

“Na opinião de Michael Knigee, jornalista da Deutsche Welle”, acabar com programa que protegia centenas de milhares da deportação é ato mesquinho e, ao mesmo tempo, serve para afastar a esperança de que Trump um dia amadurecerá no cargo de presidente.

O presidente Donald Trump podia ter escolhido levar adiante a promessa que fez aos beneficiários do programa Ação Diferida para os Chegados na Infância (Daca, em inglês) após sua posse, quando disse em uma entrevista à rede de televisão americana ABC que “eles não deveriam ficar muito preocupados”. “Eu tenho um grande coração. Nós vamos cuidar de todos”, afirmou.

Trump poderia ter acatado os conselhos de líderes empresariais e religiosos, representantes da sociedade civil e políticos de ambos os partidos que pediram que ele não acabasse com um programa do qual o país se beneficiou economicamente. O Daca permitiu que jovens que foram levados aos EUA quando crianças se tornassem membros oficiais da sociedade no único lugar que a maioria deles realmente conhece.

Ou Trump poderia ter apenas escolhido ser solidário e simplesmente fazer a coisa certa e adequada ao líder dos EUA, prorrogando o Daca e fazendo em seguida um grande discurso explicando à nação por que a permissão dos chamados “dreamers” (sonhadores) é o jeito americano de agir.

E então, aos estados liderados por republicanos que ameaçavam mover um processo judicial se ele não cortasse o programa, Trump poderia ter dito “façam isso”, garantindo que a defesa do Daca visa os interesses dos EUA. Mas Trump decidiu não fazê-lo.

Em vez disso, ele escolheu dobrar seus impulsos nacionalistas e anti-imigrantes que alimentaram sua ascensão à Casa Branca, e cortar um programa que protegeu cerca de 800 mil jovens imigrantes da deportação.

Essas são pessoas que foram trazidas ao país como crianças. Eles são cumpridores da lei, membros da sociedade que pagam impostos, que trabalharam e viveram nos EUA – e até mesmo serviram nas Forças Armadas – por anos, com uma única diferença fundamental em relação aos cidadãos e aos que possuem o green card: eles não têm status permanente de residência. O fato de Trump anunciar agora que acabará com o programa que os protege é vergonhoso e mesquinho.

Para ser correto, Trump, que geralmente desfruta de todas as oportunidades para mostrar ao mundo que é ele quem toma as decisões finais em Washington, desta vez delegou o trabalho sujo de anunciar a eliminação do Daca a seu procurador-geral, Jeff Sessions, que já havia declarado sua oposição ao programa e, nesta terça-feira (05/09), não parecia infeliz ao tornar a decisão oficial. O presidente, no típico estilo Trump, também pediu providências sobre o assunto, instando o Congresso pelo Twitter a “fazer seu trabalho”.

Pedir ao Congresso que elabore uma solução logo depois de ele ter acabado com o programa que protege muitos jovens de serem deportados por sua própria administração é ridículo – mas permite a Trump comer o bolo e ao mesmo tempo preservá-lo, como dizem os britânicos.

Em sua próxima campanha eleitoral, ele pode dizer à sua base nacionalista e anti-imigrante que cumpriu a promessa eleitoral e encerrou o odiado programa de Barack Obama de proteção aos “dreamers”. E ele pode, ao mesmo tempo, dizer a eleitores e legisladores que sua decisão se baseia em preocupações constitucionais: Obama, que havia introduzido a Daca por decreto na ausência da maioria do Congresso, excedeu as prerrogativas do Executivo. Não importa que o próprio Trump, no passado, nunca tenha exitado em reivindicar amplos poderes ao Executivo.

O argumento de Trump é desonesto e precisa ser rejeitado. Se o Congresso falhar – e seu histórico até agora sugere que isso não é improvável – em encontrar uma solução para proteger os “dreamers” da deportação, a responsabilidade pelo destino deles estará novamente nas mãos de Trump, que, como presidente, poderia ter agido, mas também preferiu não fazê-lo.

No entanto, a decisão de Trump de acabar com o Daca vai muito além do alcance limitado da imigração, pois mostra que, quando o momento decisivo chega e os tempos são difíceis, o presidente sempre atenderá sua base nacionalista e anti-imigrante.

Essa foi a cartilha adotada por Trump tanto em sua reação à violência da extrema direita em Charlottesville quanto em seu controverso perdão ao xerife Joe Arpaio, um herói para muitos eleitores contra imigrantes. O destino do Daca seria uma oportunidade para Trump corrigir sua posição, e desculpe se isso parecer cafona, para finalmente se apresentar como presidente de todos os americanos.

Mais uma vez, ele decidiu não o fazer. Embora isso seja prejudicial ao país, também é útil para finalmente acabar com a esperança de que Trump, de alguma forma e algum dia, mudará e amadurecerá no cargo de presidente.