quarta-feira, 24 abril, 2024 08:23

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A tendência de arrumar a casa

Arrumar a casa é uma nova tendência graças à japonesa Marie Kondo. Mas antes dela chegar à Netflix já existam alguns livros sobre o assunto.

Paula Margarido – “Destralhe a sua casa” Destralhe a sua casa”

São várias as maneiras de remover a tralha de casa, o importante é sentir que está na hora de o fazer: quando as divisões desarrumadas ou com excesso de objetos começam a ser um incómodo ou quando, finda o dia, há pouca vontade em regressar a casa. Este é o primeiro conselho de Paula Margarido, arquiteta e formadora de Feng Shui, que trabalha há mais de 20 anos com pessoas e suas casas. Outra situação descrita pela autora do livro “Destralhe a sua casa” (editora Manuscrito) remete para quando alguém tem, efetivamente, vergonha de que a sua falta de organização caseira seja descoberta por terceiros. Se for o caso, então, está mesmo na hora de arregaçar as mangas e começar a reunir o que já devia ter saído porta fora há muito tempo. Segundo Paula Margarido, o ambiente de desarrumação e de caos contribui para criar confusão mental. “A pessoa vai ficar mais deprimida, começa procrastinar, a perder energia… São situações urgentes, porque nós somos o espelho da casa”.

Ao longo de mais de duas décadas de carreira, a arquiteta que ajuda os clientes a arrumar a casa tem vindo a perceber mudanças de paradigma cultural, isto é, hoje há outra consciência tendo em conta o bem-estar e o minimalismo em casa. Um primeiro passo nesse sentido é percebermos o que realmente temos em casa: “As pessoas encontram muitas vezes coisas que não sabiam que tinham em casa, até coisas do ex-marido que ficaram por lá”. Outro conselho bastante importante passa por termos noção da real quantidade de espaço de arrumação — um bom armário faz uma grande diferença, atesta a especialista. “O mais importante é a pessoa só guardar e manter tudo o que realmente gosta, usa e que representa boas recordações”, continua. Ter por ter ou guardar coisas que um dia, quem sabe, vão ser finalmente usadas não entram nessa lista. Mas o dilema é fácil de resolver: tudo o que não for para ficar entre as quatro paredes de um lar pode ser reciclado, vendido ou doado. “É essencial dar espaço ao novo.” “Destralhada” a casa, é importante manter uma lógica de arrumação, algo que só é possível com o contributo de toda a família ou das pessoas com quem possamos estar a dividir a casa. Livrar a casa do que está a mais nem sempre é fácil, sobretudo quando há heranças à mistura. Até aí é preciso ter a certeza de que peças queremos ter realmente em casa e que nos trazem boas memórias. “Destralhar após um divórcio ou após a morte de um avô ou de um dos pais não são situações fáceis. É algo muito emocional, pelo que aconselho que, quando chegar o momento de arrumar a casa, isso seja sempre feito com ajuda, de um amigo ou de uma amiga.”

Paula Margarido não concorda com casas-museus, em que crianças não podem brincar livremente, nem com casas totalmente desapegadas de memórias, até porque, no meio da tralha, há peças que contam parte da nossa história.

Filipa Brandão Mira – “Cuidar da casa”

Filipa Brandão Mira, habituada a criar e a restaurar peças, mas também a falar sobre como cuidar da casa em televisão, confirma que em voga está a tendência da arrumação, que considera ser altamente necessária. No primeiro livro que escreveu — “Cuidar da Casa” (Esfera dos Livros) — propôs-se a ensinar aos leitores dicas, técnicas e produtos para melhor limpar a casa. Defende que para se ter uma casa bem arrumada é preciso pragmatismo e prefere arrumar as coisas por categoria ao invés de ir divisão a divisão (à semelhança do que faz a japonesa Marie Kondo).

“Para termos uma vida funcional e feliz temos de ter a casa arrumada, caso contrário vai tudo em vão. É tentar simplificar, o que às vezes não é fácil, mas não posso dizer que vou na onda do minimalismo. Crio peças, estou sempre criando. Para mim, isso faz parte de cuidar a casa”. Para Filipa Brandão Mira, que não cede espaço à prática da acumulação, a casa deve estar em movimento tal como as nossas vidas. “Não é preciso estar sempre com as mesmas coisas em casa. Cuidar também é criar coisas novas e não é preciso dinheiro para isso, basta pôr mãos à obra”, atesta, fazendo referência ao segundo livro que está lançando (“Reciclar, Decorar e Organizar”). O conceito de recriar estende-se às roupas: coisas que já não são usadas podem ser doadas ou, então, recicladas. A ideia a reter é a seguinte: cada peça que é feita ou adquirida com amor é capaz de nos fazer felizes e de trazer bom ambiente ao espaço onde vivemos, algo que está interligado com a arrumação. 

Paulina Draganja – “Organize a sua casa”

Paulina Draganja escreveu, “Organize a sua casa”. A ucraniana licenciada em Economia descobriu um outro rumo profissional quando, no final de dezembro de 2015, lançou um projeto de arrumação através de seu blog: “A Rainha da Arrumação”. Ao longo de um ano, milhares de seguidores executaram as tarefas propostas pela blogger, que passou os textos do universo virtual para o papel. O livro à venda deve ser encarado “como uma ferramenta prática para criar uma casa bem organizada em menos de um ano”. A proposta da autora passa por concluir uma tarefa específica por semana, sendo que, ao todo, existem 52. A ideia é criar rotinas ditas sustentáveis para manter, a longo prazo, a casa organizada.

As tarefas propostas por Paulina Draganja, que é conferencista internacional sobre organização e arrumação, começam com a criação de uma lista de prioridades e vão, posteriormente, a todos os cantos da casa: se à terceira semana se está a organizar os tachos, as panelas e as formas da cozinha, na nona está-se de volta do correio, a fazer uma gestão minuciosa da correspondência recebida e por enviar. Na lista estão ainda desafios como “organizar o armários dos produtos de limpeza”, “passar revista ao equipamento desportivo” e “limpar a memória do telefone celular”.